Num mundo em pedaços, nutrimos a Vida

Em solidariedade com o povo palestino que ensina e cultiva vida em meio aos bombardeios

Este fim de semana achegámonos a Catalunya para participar no Encontro estatal de Biodanza. Chegará o momento de partilhar as sensaçons, aprendizagens e trabalhos partilhados ali. Hoje me urge escrever sobre outro tema.

Durante a passada semana, e especialmente nos últimos dias, tive o corpo e o coraçom apertados pola situaçom que atravessa Palestina.

Tive muitas dúvidas se permanecer no Encontro, se tinha sentido estar ali enquanto noutro(s) lugar(es) há vidas sendo violentadas, territórios sendo usurpados, natureza e bens comuns sendo espoliados.

Na mesma semana na que muites afirmávamos que o colonialismo nom rematou, este se manifestava em todo o seu potencial destrutivo nas atuaçons do Estado de Israel contra o povo palestino, somando maior sofrimento a umha situaçom extrema, que leva acontecendo há máis de 70 anos perante a indiferença da comunidade internacional.

Tem sentido dançar num mundo despedaçado? Faço-me essa pergunta e nom encontro umha resposta fácil. Nom creio que exista.

Em Biodanza invocamos à Vida como factor de atraçom de ordem em meio do caos e da desolaçom. Nutrimos umha cultura do bomtrato e da nom violência que nos habilite a desmontar as relaçons de poder e dominaçom e construír outras possibilidades de viver e conviver.

E nesse processo ir criando consciência sobre as açons e políticas que atacam a Vida de forma deliberada e atroz. O colonialismo e o imperialismo capitalista contradizem aos valores biocêntricos umha vez que, junto com o patriarcado, advêm a mesma matriz cultural. Umha trenza de poder e dominaçom* que se perpetúa a través do controle, da violência, da exploraçom e das desigualdades.

Desde aqui repudiamos o programa genocida do Estado de Israel e enviamos a nossa solidariedade com o povo palestino. Abraçamos a dor pelas vidas arrebatadas. Por todas elas.

E afirmamos o compromisso em seguir oferecendo espaços nos que expressar a nossa digna raiva, essa emoçom que nos ajuda a pôr limites, a dizer basta e a transformar injustiças. A criar posibilidades.

Espaços pedagógicos nos que transformar as dinâmicas de dominaçom e abuso que habitam dentro de nós. Porque ningumhe estamos livres delas sendo educades num mundo violento e desigual.

O nosso trabalho segue um patrom de ressonância cósmica. Acreditamos que aquilo que curamos dentro, reverbera no afora e vice versa.

Desde essa convicçom em trabalhar pola Vida e por culturas de paz (nom umha paz vazia, senóm enraizada nos princípios e valores da justiça social, equidade e dereito a autodeterminaçom) seguiremos (bio)dançando e encontrando-nos num mundo em pedaços.

Para que cada movimento, cada olhar, cada abraço restitua a dignidade e o direito a existir de cada ser, de cada comunidade.

Consagramos o que temos de mais valioso, a capacidade de amar, de colocar o amor em açom e transformaçom, ao serviço desse propósito. De umha cultura enaltecedora da Vida em toda a sua potência.

Interpelamos o movimento Biodanza a somar-se à essa roda, a essa resposta pola Vida, pola possibilidade de vivir. Direito sagrado que está a ser vulnerado en Gaza e em todo o território palestino.

*Termo empregado por Josefina Sanz na sua monografía Feminismo y principio biocéntrico (Argentina, 2017)